Porquê Enke?

O meu primeiro post a sério toca num assunto desagradável, que nestes dias esteve presente em todos os noticiários e ao qual creio que ninguém ficou indiferente: a trágica morte de Robert Henke, um aguerrido defensor dos direitos dos animais, que jogou no Benfica e de quem até tenho um autógrafo, pois trabalhei junto ao estádio da Luz quando ele lá jogava.

Futebois à parte, gostava de saber a vossa opinião sobre este assunto.

Factos: em 2002, após a sua saída do Benfica, começou a sua depressão passado pouco tempo, por não se conseguir afirmar no Barcelona; andou alguns anos aos altos e baixos até se afirmar em Hannover; na época passada foi considerado o melhor guarda-redes do campeonato alemão; provavlmente iria ser titular na baliza alemã no Mundial 2010; não devia ganhar mal, concerteza.

Talvez o facto mais relevante de todos:  a morte da sua filha de 2 anos em 2006, que lhe agravou drasticamente a depressão que vinha de trás.
Porquê chegar onde ele chegou, e não pensar no que tinha neste mundo? Não pensar na esposa e na filha recém adoptada? Na sua carreira?

Houve quem comentasse comigo que é preciso ter coragem para se fazer o que ele fez.
Ora, a minha opinião é contrária. Para mim, ele estava num estado psicológico de tal ordem, que passou para o outro lado da 'linha' em termos de sanidade. O sofrimento interior é tal, que a prioridade nº 1 é acabar com esse sofrimento e tudo o resto passa para segundo plano.. seja o que for.

Nesse caso, acho que as coisas se invertem. Creio que passa a ser um acto de extrema coragem conseguir continuar neste mundo e um acto de cobardia ir embora e pôr um termo à vida. Nessa perspectiva torna-se fácil 'ir embora'. Toma-se a decisão, escolhe-se o método e avança-se. A partir dai, nada demove a pessoa que chega a este estado, pois ninguém se apercebe, porque a pessoa dissimula tudo o que sente, porque a sua decisão é mesmo a sério, ao contrário daqueles que informam meio mundo que o vão fazer apenas para chamarem a atenção.

Isto prova que o sucesso ou o dinheiro não são tudo.. podem ser ZERO ao lado de outras coisas, e a perda de algo tão precioso como um filho pode ter consequências devastadoras a nível psicológico, a ponto de se perder o interesse por absolutamente tudo nesta vida.

E também prova que os jogadores de futebol não são máquinas perfeitas (como se lhes exige) e nunca deixam de ser humanos e de ter os mesmos problemas dos outros.. por muitos milhões que recebam ao final do mês...